O Dr. António Mota Godinho Madureira nasceu em 5 de Dezembro de 1912, em Silves, filho do Inspector Escolar António Godinho Madureira e de D. Sofia Mota Godinho Madureira.

Órfão de pai muito cedo, e na sequência do segundo casamento de sua mãe com o Professor Doutor António Lopes de Oliveira, foi criado e educado por uma família judia sua amiga de nome Droiblatt Sequerra.

Completou o liceu em 1930, no Liceu Passos Manuel, em Lisboa. Licenciou-se em Medicina Veterinária pela Escola Superior de Medicina Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa, em 26 de Agosto de 1935. Colocado em Melgaço, onde foi nomeado Inspector Municipal de Sanidade Pecuária em 30 de Abril de 1936. Aí conheceu D. Marieta Adelaide da Mota Solheiro, nascida em 27 de Maio de 1912, em Melgaço, com quem viria a casar. Era filha do antigo Presidente da Câmara Municipal de Melgaço Hermenegildo José Solheiro e de Maria Leonor da Mota Solheiro.

Devido à sua actividade profissional, transferiram residência para Estarreja, onde o Dr. Madureira foi nomeado, em 20 de Junho de 1936, Veterinário Municipal e, posteriormente, Inspector Municipal de Sanidade Pecuária dos Concelhos de Estarreja e Murtosa, cargo que passou a denominar-se Médico-Veterinário Municipal. Nestes dois concelhos se manteve por várias décadas, acumulando com os cargos de Consultor da Nestlé e da fábrica de chocolates Favorita.

Em 1940, foi pioneiro no alertar para a necessidade da criação da Ordem dos Médicos Veterinários, o que viria a concretizar-se poucos anos mais tarde.

Em 1944, era Director dos Serviços e Fomento da Sociedade de Produtos Lácteos (depois Nestlé) e, aí, promoveu os primeiros concursos pecuários. Logo no ano seguinte, 1945, era já Assistente Médico-Veterinário da Secção de Fomento Leiteiro da S.P.L., onde iniciou uma nova etapa do seu desenvolvimento, com o apoio dispensado à lavoura e, dentro do mesmo espírito, o incremento da zona agrícola e leiteira. Verificou-se, então, a primeira campanha de “Fomento Leiteiro”. Nesta importante campanha, o Dr. Madureira foi um dos mais entusiasmados organizadores, publicando alguns trabalhos sobre a mesma.

Em 31 de Dezembro de 1947, conjuntamente com António José Pereira e Boaventura Pereira de Melo, fundou uma sociedade agrícola na “Quinta do Marinheiro”, propriedade do seu amigo Prof. Dr. Egas Moniz, com o objectivo de ser uma exploração pecuária e de comércio de bovinos leiteiros.

Posteriormente, o Prof. Egas Moniz em conjunto com alguns técnicos, entre eles o Dr. António Madureira, elaborou um plano de cooperação com a Nestlé, no sentido de fazer nascer, na sua “Quinta do Marinheiro”, uma “vacaria modelo”, que teria por objectivos: aproveitar e reunir touros holandeses, para com eles efectuar o cruzamento das vacas taurinas que não atingiam a produção média; incentivar a higienização dos estábulos e dotar a agricultura dos meios técnicos indispensáveis. Neste projecto, o Dr. António Madureira teve igualmente um papel muito importante, através da elaboração de inseminações artificiais com as vacas leiteiras.

Em 1953, foi um dos fundadores da E.M.A. - Empresa de Madeiras, Lda., com sede em Cacia, que promovia o exclusivo abastecimento da Companhia Portuguesa de Celulose em material lenhoso, servindo de angariadora de madeiras que posteriormente fornecia de forma a garantir um fornecimento contínuo e a estabilidade de preços. Esta actividade empresarial veio a trazer bons rendimentos ao Dr. António Madureira, embora tenha cessado a sua actividade em 1974.

Em 1959, foi um dos sócios fundadores do Vet Clube da Torreira, onde durante mais de uma década foi Vice-Presidente e membro da Direcção.

Foi, por longos anos, em Estarreja, Presidente da Comissão Municipal de Assistência e Sócio fundador do Rotary Clube de Estarreja, em que fez o discurso de saudação da entrega da Carta Constitucional em 15 de Abril de 1962, altura em que era Vice-Presidente e onde veio a proferir diversas palestras e teve um papel bastante activo.

Desde 1961 foi accionista da Mondego, o que a levou a ser em 1963-64 o principal mentor e impulsionardor da Macelco, empresa abastecedora da Socel. Em 1966, foi um dos fundadores da Inflora - Sociedade de Investimentos Florestais, S.A.R.L., com sede em Lisboa, cujo objectivo consistia na florestação de terrenos, de que foi membro do Conselho de Administração.

Dotado de invulgar sensibilidade, rodeou-se de amigos e homens de grande cultura que o ajudaram na selecção e recuperação das obras de arte que foi adquirindo, entre os quais, o Prémio Nobel da Medicina Prof. Dr. Egas Moniz, o pintor Fernando Martinez Rúbio, Restaurador do Museu do Prado, o pintor e escritor Dr. João Carlos Celestino Gomes, o Ministro Cons.º Albino dos Reis, o Administrador da Nestlé Johann Adolf Beck, Dr. Henrique de Albuquerque Souto, Dr. Manuel Figueiredo e os Administradores da Companhia Portuguesa de Celulose Eng.º Vasco Quevedo Pessanha e Dr. António Ferreira de Almeida, entre outros.

Em 24 de Outubro de 1991, a Sociedade Portuguesa Veterinária de Artes e Letras atribuiu-lhe o título de Sócio Especial, o que aconteceu pela primeira vez na vida daquela instituição.

Faleceu em 16 de Março de 1996, sem geração, na sua casa em Estarreja.


 

Ao longo da vida, foi publicando diversos trabalhos e participando em diversas conferências, relacionados com a sua actividade profissional, dando especial atenção aos lacticínios, como:

- “Subsídio para a resolução de alguns problemas de veterinária rural”, Lisboa, 1941;
- “O leite - alguns problemas actuais da sua produção”, Câmara Municipal de Estarreja, 1941;
- “Casos Clínicos - notícia duma heteroplastia fraudulenta”, Estarreja, 1942.
- “A Formação Profissional”, separata da “Revista de Medicina Veterinária”, Lisboa, 1943;
- “Sobre o preço único do leite”, separata do “Boletim Pecuário”, n.º 1, Ano XVI, Editorial Império, Lisboa, 1943;
- “Leite e derivados”, Lisboa, 1945;
- “O leite - novos aspectos do problema da produção”, Câmara Municipal de Estarreja, 1945; (Conferência realizada na Sociedade Portuguesa de Medicina Veterinária, em Lisboa)
- “Fomento Leiteiro”, Sociedade de Produtos Lácteos, 1945.;
- “Seis anos de Fomento Leiteiro da Sociedade de Produtos Lácteos”, 1950;
- “Subsídio para um novo estatuto do Médico-Veterinário Municipal”, Lisboa, 1960.
- “Subsídio para um novo estatuto do Médico-Veterinário Municipal”, Lisboa, separata de “Revista Veterinária”, n.º 2, série XXIV, 1961.
- “Saudação”, Rotary Clube de Estarreja, 1962. (Discurso de Saudação da entrega da Carta Constitucional)
- “A situação dos Médicos-Veterinários Municipais”, Lisboa, Veterinários Municipais Portugueses, 1963. (co-autoria)
- “João, querido amigo”, “Arquivo do Distrito de Aveiro”, vol. XXVIII, 1966. (Dedicado ao seu amigo Dr. João Carlos Celestino Gomes)
- “Palavras evocativas e de reconhecimento a propósito da melhoria da situação dos Médicos-Veterinários Municipais”, Veterinários Municipais Portugueses, Lisboa, 1969. (co-autoria)